CRISE NO SETOR ORIZÍCOLA: MEDIDAS DO GOVERNO SÃO INSUFICIENTES DIANTE CENÁRIO CRÍTICO ENFRENTADO PELAS INDÚSTRIAS CATARINENSES
Escoamento do produto excedente para o comércio exterior pode ser a melhor alternativa para reequilibrar o mercado.
No fim de outubro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou uma nova medida com objetivo de reequilibrar os valores de mercado e garantir renda aos produtores de arroz, aliviando o impacto da crise no setor orizícola. A iniciativa prevê a compra de 137 mil toneladas do grão, limitado a venda a 189 toneladas por produtor. Entretanto, para o Sindicato das Indústrias de Arroz de Santa Catarina (SindArroz-SC), as ações adotadas pelo Governo Federal são insuficientes diante do cenário crítico enfrentado pelo setor.
Segundo o presidente do SindArroz-SC, Walmir Rampinelli, a expectativa para 2026 não é boa, considerando que as ações adotadas pelo Governo Federal não têm sido eficazes até o momento. “Somos responsáveis por 10% do abastecimento nacional e geramos 50 mil empregos, mas não temos expectativas de melhora da crise. As indústrias estão aguardando o fim do ano para dar férias coletivas aos colaboradores e realizar manutenções internas com o objetivo de frear os impactos da crise econômica, mas não há muito mais que possamos fazer se não esperar pelo próximo ano”, afirma.
Para o vice-presidente do SindArroz-SC, Diogénes Mendes, ainda que a medida ajude a segurar a queda de preços no mercado à curto prazo, mantém o estoque interno do Brasil elevado. “A ação é válida como medida emergencial, mas não resolve o problema estrutural do setor, uma vez que o estoque público pode retornar ao mercado em momentos inadequados e prejudicar a recuperação de preços, como já vimos acontecer. A Conab deveria concentrar esforços em mecanismos de incentivo ao comércio exterior para abrir espaço no mercado brasileiro e equilibrar a oferta do cereal, ao invés de focar apenas em compras internas que não resolvem o problema de estoque”, aponta.
Início da crise
De acordo com o SindArroz-SC, os primeiros sinais de que uma crise econômica se aproximava foram sentidos já no fim de 2024, com uma leve queda nas cotações e redução no ritmo de comercialização interna. Em seguida, em fevereiro de 2025, a cotação do arroz passou a cair a cada semana, chegando próxima ao valor de R$70 a saca e fazendo com que os produtores passassem a comercializar o cereal por um valor abaixo ao custo de produção, que gira em torno de R$75.
Esse cenário pressionou também as indústrias, que precisaram reduzir margens de lucro e adotar medidas estratégicas para manter a competitividade no mercado. Atualmente, a saca de 50kg de arroz está sendo comercializada a R$55 em Santa Catarina, muito abaixo do valor de produção. Um cenário semelhante se repete, também, nos demais estados produtores de arroz do país.
PEP e Pepro como alternativas eficazes
Na perspectiva das indústrias catarinenses, a melhor alternativa é escoar o produto armazenado para fora do Brasil, a fim de abrir espaço no mercado interno e movimentar o comércio, para que os produtores não fiquem descapitalizados. O Governo Federal já possui programas oficiais de incentivo à exportação, como o Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e o Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), que garantem o preço mínimo ao produtor e estimulam o escoamento da produção excedente.
De acordo com o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC), Vanir Zanatta, a quantidade de produto comprado pela Conab é muito baixa considerando a alta produtividade do Mercosul e programas de exportação são mais adequados e eficazes do que as compras internas praticadas pela Conab, uma vez que beneficiam produtores e indústrias ao mesmo tempo em que reduzem o excesso de arroz no país e, por isso, deveriam ser tratados como prioridade.
“O mercado sabe que comprar 100 ou 200 mil toneladas de arroz não muda o estoque de passagem, por isso o preço continua perdido. O Governo deveria concentrar esforços em operações voltadas ao escoamento acima de um milhão de toneladas de arroz para o comércio exterior para que o mercado brasileiro se reajuste próximo ao preço mínimo de produção, em vez de focar apenas em compras internas que não resolvem o problema de estoque”, destaca Zanatta.
Na avaliação do SindArroz-SC, medidas de exportação também são as adequadas nesse cenário crítico. “O custo de produção de arroz no Brasil é um dos mais altos do mundo devido aos tributos em cascata sobre os insumos utilizados e mesmo assim os produtores estão tendo que vender seu trabalho abaixo do custo de produção. É necessário investir em mecanismos de escoamento de produto, pois a base da cadeia produtiva está ficando descapitalizada”, conclui Rampinelli.
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