Participação remota de um dos investigados irritou deputados. Depoimentos mostram prejuízo a empresários idôneos envolvidos no processo.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a compra dos 200 respiradores por R$ 33 milhões ouviu nesta quinta-feira (18) mais três pessoas: o médico pneumologista Marcio Martins, o representante da empresa Oltramed, Gustavo Steglich, e o representante da empresa Brazilian Trading, Rafael Wekerlin.
O primeiro a ser ouvido foi Martins. O médico deu mais detalhes sobre como é o atendimento a pacientes com síndrome respiratória grave e o padrão de uso de respiradores pulmonares. O depoimento foi importante para colocar em perspectiva a troca de equipamentos durante a negociação do Estado com a Veigamed e a necessidade de treinamento de profissionais.
Investigado irrita deputados
A segunda testemunha a ser ouvida era o representante da empresa Cima no Brasil, Samuel de Brito Rodovalho. A empresa seria a responsável pela parte internacional de negociação dos equipamentos, já que possui escritórios em outros países. Samuel teria garantido a entrega dos respiradores, que estavam no Panamá.
A força-tarefa que investiga a compra cita Samuel em um dos relatórios da Operação Oxigênio. Ele aparece em uma conversa de Whatsapp falando sobre o pagamento de uma "comissão" de R$ 3 milhões. Para isso, seria necessária a troca do equipamento.
Samuel entrou na CPI por videoconferência, mas sua participação durou menos de cinco minutos. Os parlamentares perceberam que ele estava em Florianópolis e exigiram sua presença física. O depoente havia pedido a participação por videoconferência para proteger a esposa - que está grávida - e a sogra - que pertence a grupo de risco -, mas dirigiu-se até um escritório de advocacia.
A ação irritou os deputados, que rapidamente aprovaram um requerimento para suspender o depoimento e convocar Samuel pessoalmente em outro dia.
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Reprodução/Força-Tarefa/
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Reprodução/Gustavo Bissacotti Steglich, representante da empresa Oltramed, de Joinville
"Na hora errada, lugar errado"
A segunda testemunha a depor, de fato, foi Gustavo Bissacotti Steglich, representante da empresa Oltramed, de Joinville. A empresa não teve participação na compra dos respiradores, mas é apontada pela força-tarefa como sendo usada pela Veigamed em um suposto esquema para lavagem do dinheiro.
Após o pagamento do Estado, a Veigamed pulverizou o dinheiro em 56 transferências. Parte desses depósitos foi destinada à Oltramed, que atingiu cerca de R$ 11,1 milhões. A intenção da Veigamed, segundo a força-tarefa, era comprar 100 mil testes para Covid da Oltramed e revender para outros estados e municípios, a fim de tornar o dinheiro limpo.
Só que a transação com a Oltramed, que não possui irregularidades, foi identificada pela polícia antes de acontecer e o dinheiro - e a carga - foram apreendidos. "Nosso contato se restringe a um único negócio que foi feito com a Veigamed na tentativa de compra de testes de Covid [...] A venda seria concluída, mas deu tempo de fazer o caminhão voltar", disse Steglich. "Na hora errada, lugar errado", acrescentou.
O valor depositado pela Veigamed à Oltramed compõe a maior parte do montante bloqueado pela Justiça para garantir o ressarcimento aos cofres do Estado. Segundo Steglich, o bloqueio nas suas contas fez com que ele ficasse duas semanas sem poder fazer negócio, até que a Justiça bloqueasse apenas os R$ 11,1 milhões.
O correspondente aos R$ 11,1 milhões já foram depositado numa conta em juízo, mas a empresa já havia pagado R$ 3 milhões em impostos e agora busca uma forma de receber o recurso de volta. O valor foi transferido ao Estado do Rio de Janeiro, destino da mercadoria.
O fato de a Veigamed ter quitado os R$ 11,1 milhões antecipadamente e não ter recebido o produto nenhum é irônico. "Provando do próprio veneno", disse o deputado Valdir Cobalchini (MDB), durante a sessão.
A força-tarefa também identificou que pessoas ligadas à Veigamed lamentaram o bloqueio dos recursos.
"Furada na minha opinião"
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Reprodução/Rafael Wekerlin, responsável pela Brazilian Trading, de Joinville.
O terceiro a ser ouvido foi o empresário Rafael Wekerlin. Ele é o responsável pela Brazilian Trading, de Joinville, que faria a importação dos respiradores antes da Veigamed entrar no jogo. Segundo a força-tarefa, Wekerlin saiu do negócio após o pedido de pagamento de "comissão" de R$ 3 milhões, conforme conversa acima. Nas mensagens de Whatsapp, ele diz "3 milhões para quem? furada na minha opinião".
Rafael reforça ainda que a Veigamed copiou sua proposta de entrega dos equipamentos. A empresa carioca utilizou o mesmo modelo, e inclusive esqueceu de retirar o nome dele em algumas partes do documento. Ele negou que conhecesse Fábio Guasti ou Pedro Nascimento Araújo, que representaram a Veigamed junto ao Estado.
A proposta da Brazilian Trading foi substituída pela da Veigamed como fornecedora dos respirados em contato de Guasti com a então superintendente de Gestão Administrativa, Marcia Regina Geremias Pauli, no dia 27 de março.
Especialista em importação, Wekerlin disse ainda que "esse tipo de compra deve ser feito diretamente com os fornecedores, não passar por intermediários. O procedimento já estava errado". Ele acrescenta que, mesmo com o período crítico de compras, o governo deveria ter enviado uma comitiva à China para verificar os respiradores e poderia trazê-los via voo fretado em até dez dias.
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