Nos casos, a maioria das vítimas fez a compra um veículo por meio de anúncios na internet, em sites de classificados.

O golpe do falso intermediário já fez mais de 100 vítimas em Santa Catarina. Nos casos, a maioria das vítimas comprou um veículo por meio de anúncios na internet, em sites de classificados. Fecharam negócio com uma pessoa que fez a negociação entre o comprador e o verdadeiro dono, e acabaram caindo na conversa de golpistas.

Uma das vítimas foi o motorista Eduardo Becher. Ele achou o anúncio de um caminhão na internet e depositou R$ 55 mil, mas o dinheiro era falso e o dinheiro foi parar na conta dos golpistas. 

"Esse dinheiro surgiu de uma venda de um bem meu que era um veículo (...) o outro valor restante, eu fiz um empréstimo. Hoje eu não tenho o bem, não tenho o valor do empréstimo, tenho uma dívida de três anos pra pagar", disse disse. 

A Polícia Civil investiga as ocorrências. "Só nos últimos três meses a gente teve mais de 150 casos", disse o delegado Douglas Barroco. "Envolve carros, motos, caminhões, e valores de R$ 100 mil, R$ 75 mil, R$ 10 mil", disse. 

Como funciona 

As quadrilhas criam anúncios falsos de veículos, mas os bandidos fazem isso copiando fotos e informações de ofertas verdadeiras. Um tipo de clone, onde mudam apenas o telefone de contato por um número da quadrilha e também o valor por um abaixo do preço de mercado, para tornar o negócio mais atrativo.

A vítima vê o anúncio e, sem imaginar que é uma cópia, acaba ligando para o telefone da quadrilha. Os bandidos se apresentam como um intermediário que está representando o verdadeiro dono do veículo. 

Quando a vítima mostra interesse na compra, o golpista então liga para o telefone do anúncio original e diz para o verdadeiro dono do veículo que está interessado em comprá-lo para quitar uma dívida. Por isso, ele só fará o pagamento e outra pessoa vai ver o carro pessoalmente. 

Com essa desculpa, os criminosos conseguem marcar entre o comprador e o dono do carro. Mas nenhum deles sabe que se trata de um golpe. "No final da história, fica que os dois indivíduos são vítimas no caso", disse Douglas. 

Donos dos carros e vítimas 

Os golpistas marcam encontro entre as potenciais vítimas e os verdadeiros donos do carro, cujos anúncios são usados no crime: é uma exigência do falso intermediário tanto pra um, quanto para o outro pra fechar o negócio.

Quando o comprador sinaliza que vai ficar com o veículo, o golpista passa uma conta da quadrilha e o dinheiro nunca chega no verdadeiro dono. 

Morte 

Na Bahia, o golpe teve consequências piores. Gabriel dos Santos depositou R$ 59 mil na conta dos bandidos. Mas acreditava que o valor estava indo para o verdadeiro dono do carro, Michel Santana.

Segundo a polícia, quando Gabriel descobriu que havia perdido o dinheiro, pensou que Michel estava envolvido no esquema. 

"Aí acabou que Gabriel mata Michel, achando que Michel tinha aplicado um golpe nele. Sendo que Michel também era vítima do golpe", disse o delegado Delmar Bittencourt. 

Michael foi torturado e morto a tiros, apontou a investigação. Após o crime, Gabriel fugiu para Santa Catarina, mas acabou preso em Pomerode, no Vale do Itajaí. 

Criminosos 

As investigações da polícia apontam que os falsários são de Mato Grosso. a maioria das contas bancárias usadas no esquema é de lá.

"Estamos identificando as lideranças que estão por trás desses crimes: estelionato e associação criminosa. A maioria das lideranças praticamente estão dentro dos presídios de Cuiabá", disse o delegado Vitor Chab. 

Áudios obtidos pela reportagem mostram golpistas dando ordens de dentro de presídios mato-grossenses para integrantes das quadrilhas. 

Orientações 

A Polícia Civil dá dicas para as pessoas não caírem em golpes. "Sempre procurar fazer a negociação com o proprietário. Se for efetuar o pagamento, depositar na conta do proprietário do veículo. Verificar se o veículo se encontra no nome daquela pessoa. Enfim, se cercar de todos os cuidados de que realmente se está negociando com o dono do veículo", disse o delegado Rodrigo Bortolini.